JOVEM RICO EXEGESE (marcos 10:17-21)

Realmente, é interessante descobrir o sentido verdadeiro dos textos bíblicos, isto é, através de estudos e meditações descobrir qual a sua mensagem para a época em que foi escrito e também ver a mensagem para nós hoje. É necessário este tipo de estudo, pois vemos que sem este estudo já apareceram muitas interpretações erradas. E para nós, estudantes de Teologia isso não pode ocorrer. Temos que sempre mostrar o real significado dos textos bíblicos, e desafiar outros a fazerem  isso.

         Sendo este o nosso propósito, faremos a exegese de Marcos 10:17-31. E mostraremos através dos seus passos, os seus significados e histórias para realmente saber quais as preocupações do autor desse tão interessante evangelho. A exegese é um trabalho que visa mostrar qual é o verdadeiro sentido dos textos bíblicos, com isso veremos qual o significado de Marcos 10:17-31 para o restante do livro. O nosso objetivo é que, as partes estudadas que vão desde o texto original até a releitura teológica, nos tragam realmente a verdadeira compreensão desta perícope que é de extrema importância para o evangelho de Marcos.

1.1.  Tradução
      

v. 17. E quando ele saiu em caminho, alguém correu e ajoelhando-se perguntava-lhe: Bom mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?

18. Jesus lhe disse: Por que falas bom? Ninguém é bom exceto um Deus.

19. Os mandamentos conheces: não mates, não adulteres, não roubes, não testemunhes falsamente, não defraudes, honras o teu pai e a mãe.

20. Ele dizia: mestre, todas essas observei a partir de minha juventude.

21. Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe: Uma coisa te falta. Vai, venda o que tens e dê aos pobres e terás um tesouro no céu. Também venha e siga a mim.

22. Ele , aborrecido com a palavra partiu triste pois tinha muitas propriedades.

23. E olhando ao redor Jesus diz aos seus discípulos: como dificilmente os que tem riquezas entrarem no reino de Deus.

24. Os discípulos estavam atônitos com as palavras com as palavras dele. Jesus novamente diz: Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus.

25. Mais fácil é um camelo passar através do buraco da agulha que rico entrar no reino de Deus.

26. Eles estavam muito mais espantados dizendo a si mesmos: também quem pode ser salvo?

27. Olhando para eles, Jesus diz: Para os homens impossível, mas não para Deus, pois para Deus tudo é possível.

28. Começou Pedro a dizer-lhe: eis que temos deixado tudo e temos seguido a ti.

29. Afirmou Jesus: verdadeiramente vos digo, não há ninguém que tendo deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou mãe ou pai ou filhos ou campos por causa de mim e por causa do evangelho,

30. Que não receba cem vezes mais agora neste tempo, casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e campos com perseguições, e na era que vem a vida eterna.

31. Pois muitos primeiros serão últimos e os últimos primeiros.
2.  CRÍTICA  LITERÁRIA

2.1. Delimitação do texto

 1) O texto é delimitado nos versículos l7-31, temos uma cesura antes do versículo 17 e também uma cesura depois do versículo 31.
2) Mudança de assunto em relação a perícope anterior, o assunto tratado nesta perícope é outro,  isso é reforçado com a conjunção kai (e), Jesus estava saindo da presença das crianças. Em relação a perícope posterior o assunto também é outro, com a indicação de que estão indo para Jerusalém.
3) Mudança de personagens em relação a perícope anterior, no lugar das crianças aparece o jovem, os discípulos ainda estavam mas somente a partir do versículo 23.
4) Em relação a perícope anterior, a linguagem continua narrativa.
5) Mas, mesmo indo para Jerusalém e sendo outro assunto, os personagens são os mesmos.
6) Ainda com relação a perícope posterior há mudança na linguagem. O versículo 31 fecha a perícope em linguagem discursiva e o versículo 32, da outra perícope que inicia, está em linguagem narrativa.
7) O gênero literário da perícope posterior é o da paixão, diferenciando totalmente da perícope  10:17-31.


2.2.  Coesão
           Apesar de estar dividida em três partes em sua estrutura, o texto mantém a mesma idéia. Não podemos tratar somente 17-22, ou 23-27 e 28-31, pois esta terceira parte é uma resposta da segunda que é resposta da primeira. Há dois grupos em discussão: os que não seguem a Jesus devido a situações circunstanciais e os que deixam tudo para irem com o mestre, isso é tratado com o exemplo do jovem rico e a participação de Pedro quando fala que tudo deixou para seguir o mestre.

          Pois a negação do jovem em 17-22 desperta em Jesus um comentário a partir do versículo 23 aonde está somente na companhia dos discípulos, dizendo sobre a dificuldade que os ricos tem para entrarem no reino de Deus. Isso faz aparecer a participação de Pedro nos versículos 28-31, com a explicação do destino daqueles que seguiram a Jesus, as recompensas. De maneira fácil podemos ver então que Mc 10:17-31 é um todo coeso que mostra duas situações que se relacionam, pois está sendo discutida como uma preocupação de Jesus.


2.3.  Estrutura
             Podemos estruturar esta perícope da seguinte maneira:

A. 17-22  : JESUS E O JOVEM
17a      : introdução
17b      : o jovem pergunta ao bom mestre
18-19  : Jesus diz que Deus é bom somente e responde ao jovem
20       : o jovem é praticante dos mandamentos
21       : proposta de Jesus ao jovem
22       : reação do jovem frente a proposta

                     B. 23-27: JESUS E OS DISCÍPULOS
23-24: Impossibilidade dos ricos entrarem no reino de Deus
25: confirmação da impossibilidade com uma pequena parábola “É mais  fácil um camelo passar através do buraco da agulha que rico entrar no reino de Deus”.
26: dúvida dos discípulos face ao que Jesus disse
27: Jesus explica

A’ : 28-31: JESUS E PEDRO
28:  Pedro mostra sua situação de seguidor              
29-31: Jesus explica. Recompensa dos discípulos

2.4.  Fontes
          Em Marcos 10:17-31, Jesus em sua fala usa trechos do Antigo Testamento. Quando cita  ao jovem os mandamentos, ele traz a lembrança aqueles mesmos deixados com Moisés. Êxodo  20:12-16  e  Deuteronômio 5:16-20  mostram todos eles, mas Jesus cita somente alguns visto a preocupação que Ele tinha em falar com aquele jovem.  Essa citação tinha como objetivo descobrir se aquele jovem era realmente cumpridor de todos os mandamentos, pois ele vivia segundo a lei que fora instituída no período veterotestamentário. 



3. ANÁLISE  REDACIONAL


3.1. Comparação  Sinótica


Marcos 10.17-31                                 Mateus 19.16-30                                   Lucas 18.18-30

17. E quando saiu em caminho, alguém correu e ajoelhando-se perguntava-lhe:


16. E eis que alguém aproximando-se, lhe perguntou:



18. Certo homem de posição perguntou-lhe:


Bom Mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?


mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?


Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?


18. Jesus disse: Por que falas bom?



17. Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom?


19. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom?



Ninguém é bom exceto Deus.



Bom, só existe um




Ninguém é bom senão um só, que é Deus.


19. Os  mandamentos       conheces:                     




Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.



20. Sabes os mandamentos:






18. E ele perguntou: Quais?





Não mates, Não adulteres, Não roubes, Não testemunhes, Não defraudes, honras a teu pai e a mãe.



Respondeu Jesus: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho;



Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho,







19. Honra o teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.



Honra a teu pai e a tua mãe.



20. Ele disse: Mestre, todas estas observei a partir de minha juventude.



20. Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado, o que me falta?



21. Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.


21. Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe:




21. Disse-lhe Jesus:



22. Ouvindo-o, Jesus disse-lhe:


Uma coisa te falta,


Se queres ser perfeito,


Uma coisa ainda te falta:


21. Igual a Mt e Lc.



21. (cont) igual a Mc e Lc.



22. (cont) igual a Mt e Mc.


22. Propriedades




22. Propriedades




23. Riquíssimo

23.E olhando ao redor, Jesus diz  aos seus discípulos:



23. Então disse Jesus a seus discípulos:



24. E Jesus, vendo-o assim triste, disse:


Como dificilmente os que tem riquezas entrarão no reino de Deus.



Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus.



Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que tem riquezas!


25. Igual a Mt e Lc.



24. Igual a Mc e Lc



25. Igual a Mt e Mc.


26. Eles estavam mais espantados dizendo a si mesmos:



25. Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados, e disseram:



26. E os que ouviram disseram:


e quem pode ser salvo?


Sendo assim, quem pode ser salvo?



Sendo assim, quem pode ser salvo?


27. Olhando para eles, Jesus diz:



26. Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes:



27. Mas ele respondeu:


Para os homens é impossível, mas não para Deus, pois para Deus tudo é possível.



Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível.



Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.


28. Começou Pedro a dizer-lhe:



27. Então lhe falou Pedro:



28. E disse Pedro:


Eis que temos deixado tudo e temos seguido a ti.



Eis que nós tudo deixamos e te seguimos:



Eis que nós deixamos as nossas casas e te seguimos.





Que será, pois, de nós?





29. Afirmou Jesus:



28. Jesus lhes respondeu:
Em verdade vos digo que vós o que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentares em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.


29. Respondeu-lhes Jesus:



Verdadeiramente vos digo, não há ninguém que tendo deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou mãe ou pai ou filhos ou campos




29. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou filhos ou campos,




Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulheres, ou irmãos, ou pais, ou filhos


Por causa de mim e por causa do evangelho,


por causa do meu nome,


Por causa do Reino de Deus,


30. que não receba cem vezes mais agora neste tempo, casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e campos com perseguições, e na era que vem a vida eterna.




receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna.



30. Que não receba no presente muitas vezes mais, e no mundo por vir a vida eterna.


31. Pois muitos primeiros serão últimos e os últimos primeiros.



30. Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.





Este quadro sinótico nos permite fazer algumas observações:


1. Diferentemente de Lucas no versículo 18 que refere-se ao jovem como um homem importante "'arcon" , Mt e Mc referem-se ao jovem como sendo alguém  "eis". Somente em Marcos o jovem se ajoelha diante de Jesus.   

2. Em Marcos e Lucas, o jovem chama Jesus de Bom Mestre "Didaskale agathe", ao passo que Mateus só há a palavra mestre "didaskale".          (ninguém é bom exceto Deus, ou senão um que é Deus) acontece de maneira igual em Marcos e Lucas, em Mateus é ( Não há bom senão um só, que é Deus.).                                             

3. Mateus faz uma introdução antes de citar os mandamentos (Se queres porém, entrar na vida) eí de Theleis eis tèn zoen eiselthein, isso não há em Marcos e Lucas. A pergunta "Legel auto"|Poías [cuales?]  feita pelo jovem referente a quais mandamentos cumprir só existe em Mateus.
 
4. Os mandamentos são iguais em Mateus e Lucas, Marcos também é igual mas tem um mandamento a mais "Mè aposterésesh"|(Não defraudes). Mateus no fim os mandamentos tem a frase "Agapeseish ton plesion sou jos seauton" (amarás o teu próximo como a ti mesmo), Marcos e Lucas não possuem essa parte.
 
5. Marcos e Lucas têm a palavra "neotetósh" (juventude), Mateus  omite esta palavra e acrescenta ainda uma pergunta "tí eti ustero" (o que me falta?). Em Mateus como resposta temos  "ethe aùto o Iesous" (disse-lhe Jesus), e em Marcos temos como resposta :

"o` de Iesous emblépsas auto egapesen auton kai eipen auto"  (Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe).  Em  Lucas  temos  como  resposta :

"akousas dè o` Iesous eipen auto" (Ouvindo-o Jesus disse-lhe)

6. Mateus diferencia de Marcos e Lucas usando o termo Ei qeleij te,leioj einai (se queres ser perfeito). Mateus e Marcos adotam a palavra ktemata  (propriedades), Lucas usa a palavra plousios  (rico).
 
7. Em Mateus temos a frase :

O de Iesous eipen toi maqetais autou (Então disse Jesus aos seus discípulos). Em Marcos temos a frase :

Kai peribleyamenos o` Iesous legei tois maqetais auto (e olhando ao redor Jesus disse aos seus discípulos). E em Lucas temos a frase Idon de auton o` Iesous @perilupon genomenon eipen (E, Jesus vendo-o assim triste, disse). Em Mateus Jesus foi direto aos discípulos. E em Marcos ele olha em volta e depois fala, e em Lucas ele observa ainda o jovem e depois fala.
 
8. Quando se refere a impossibilidade de se herdar o reino sendo um rico, Mateus usa a palavra Amen (em verdade) e, diferente de Marcos e Lucas que usam basileian tou qeou (reino de Deus),  Mateus usa  basileian ton ouranon (reino dos céus).
 
9. Mateus e Marcos usam a mesma palavra  eqambounto (espantado, maravilhado). Em Lucas não há isso. Os discípulos, ouvindo já disseram sem que mostrassem suas reações emocionais; mas em Lucas não há a palavra  maqetais  (discípulos).
 
10. Em Mateus e Marcos temos a palavra embleyas  (olhando), Jesus olhou os discípulos e disse, mas em Lucas ele somente responde  o` de eipen (respondeu ele).
 
11. Mateus e Marcos usam a palavra panta (tudo). Os discípulos deixaram tudo para seguirem a Jesus, em Lucas temos  ta idia (lar), aqui eles deixaram os lares . Mateus tem após a fala de Pedro, uma pergunta feita pelo próprio Pedro que não tem em Marcos e Lucas, ti ara estai e min  o que aconteceria com eles pelo fato de terem se entregado para Jesus?

12. Mateus e Lucas usam a palavra eipen (disse) e Marcos usa a palavra efe (afirmou).
 
13. No que se refere as coisas deixadas para seguir a Jesus, Mateus e Marcos são iguais e tem as palavras metera (mãe), patera (pai), agrous (campos) que Lucas não tem nenhuma delas, mas tem duas palavras que Marcos e Mateus não tem: goneis (pais), gunaika (mulher).

14. Em Mateus temos a frase eneken tou onomatos mou (por causa do meu nome). Em Marcos temos a frase eneken emou kai eneken tou evaggeliou (por causa de mim e por causa do evangelho). E em Lucas temos a frase eneken tes basileias tou Zeus (por causa do Reino de Deus).  Há três motivos diferentes para se deixar tudo, por causa do nome de Jesus, por causa  de Jesus e o evangelho e por causa do reino de Deus. Diferente de Mateus e Lucas, Marcos mostra o que receberão muitas vezes mais ( casas, campos, filhos, perseguições). Mateus e Lucas não repetem isso. Eles só dizem que quem fizer isso receberá muito mais, mas os três concordam que no futuro os seguidores terão a vida eterna, enquanto Lucas não possui os finais de Mateus e Marcos sobre os primeiros e últimos encerrando o seu relato.


3.2.  Contexto literário de Marcos 10:17-31


         O evangelho de Marcos é dividido em duas grandes partes, 1:16-8:26 e 8:27-16:8. A parte de 16:9-20 pode ser uma conclusão, mas é um acréscimo feito posteriormente . O estudo do contexto literário visa localizar o texto no contexto geral do evangelho. Bem, a primeira parte do evangelho 1:16-8:26 corresponde ao início do ministério de Jesus na Galiléia. Nessa parte podemos ver os primeiros êxitos e os primeiros conflitos das autoridades com Jesus, que começa o seu ministério chamando ajudantes para acompanhá-lo nessa caminhada. Jesus vem como o Santo de Deus,  em o nome de Deus faz muitas coisas, teve a vitória sobre os espíritos imundos,  doenças, etc.  Mas ele começa a encontrar barreiras em seu ministério, através dos fariseus, que foram contra as suas práticas e questionaram sua autoridade: “Quem é esse que perdoa pecados? Por que seus discípulos colhem espigas no sábado?” Jesus veio para instituir o novo modo de viver em várias áreas de uma sociedade que vivia sob o peso da lei.

Os líderes do judaísmo não estavam aceitando essa presença de Jesus, tanto que logo em 3:6 já se tem a primeira idéia em se tirar a vida dele. O  tema da fé nessa seção é muito evidente, os parentes de Jesus e os fariseus não criam nele, e nem  os nazarenos. E até mesmo os discípulos que, apesar de estarem sempre com Jesus, não estavam totalmente seguros. Com a cura da filha de Jairo e da mulher com a hemorragia, Jesus mostra o poder da fé, e o grupo que vai se formando em volta dele é considerado sua família. Nessa parte, uma coisa a ser valorizada são as constantes dúvidas dos discípulos. Jesus explicava e eles não entendiam nada.

         Nessa primeira parte do evangelho, sempre quando Jesus fazia um milagre pedia para que não contassem o seu feito: é o chamado segredo messiânico. Temos que destacar a importância da Galiléia no evangelho de Marcos, pois ele começa na Galiléia e termina na Galiléia. A geografia de Marcos não é somente uma geografia física, mas também é uma geografia teológica.  A Galiléia é uma instância teológica, é um lugar bom, ela assume um papel importante no evangelho, pois historicamente Jesus começa na Galiléia e não em Jerusalém, indo a Jerusalém somente para morrer.

              Mas a parte que nos interessa é o segundo bloco do evangelho que vai de 8:27-16:8 que trata sobre a subida de Jesus para Jerusalém. A partir de 8:27-33 com a confissão de Pedro e o primeiro anúncio da paixão, acontece uma inversão na narrativa.  Aquele Jesus quieto, que não queria ser conhecido, começa a perguntar quem é, e começando assim o outro momento de sua vida que vai até a crucificação. Jesus começa a falar sobre o destino do filho do homem que terá a vitória através da cruz e do sofrimento,  evidenciado isso nos três anúncios da paixão (8:31, 9:31, 10:33-34). A caminhada para Jerusalém é marcada por um grande e constante esclarecimento do projeto messiânico de Jesus. E isso não fica somente nos três anúncios da Paixão e ressurreição, mas também no aprofundamento de suas conseqüências para os que seguem a Jesus. Nesse sentido,  podemos dividir este segundo bloco para mostrar a função da perícope 10:17-31 neste segundo bloco.

         De 8:27-10:52 temos um sub-bloco que pode ser chamado de bloco de ensinos para a comunidade. Mc 11:1 até 12:2 narra os conflitos com as autoridades em Jerusalém, 13:3-37 é o discurso escatológico, 14:1 até 16:8 é a narrativa da Paixão e ressurreição sendo 16:9-20 a conclusão. Marcos 8:27-10:52 fala dos ensinamentos para a comunidade. Nesse bloco Marcos discute temas que estão sendo presentes na comunidade. São dadas instruções sobre o divórcio( 10:1-12), crianças (10:13-16) a riqueza (10:17-31) o serviço (10:41-45). Dessa forma existe um processo didático no evangelho, lembremos que o evangelho era lido para a comunidade. Assim, temas como riqueza, divórcio e levar a cruz, são dirigidas para a comunidade.

         Na teologia de Marcos, a comunidade tem que andar no caminho que Jesus andou. O que Marcos narra a respeito da atuação terrena de Jesus está relacionado ao querigma da cruz e ressurreição. Marcos, no ato de reformular a tradição de Jesus, tinha como objetivo dar orientações para a comunidade. Nesse sentido, a perícope de 10:17-31 tem uma preocupação e a sua função no bloco é importante. Ela trata a relação entre a posse de riquezas, a vida eterna e o seguimento a Jesus. Trata-se de um desafio presente na comunidade marcana. O desprendimento das riquezas era um meio possível para seguir a Jesus, com certeza muitos ricos na comunidade estavam negando o chamado de Jesus devido ao tipo de vida que isso exigia, e pensando que seguir a Jesus era uma coisa mais descompromissada.


3.2.1. O contexto integral: O Evangelho de Marcos


3.2.1.1. Autoria

           Sobre a autoria de Marcos, muitas são as informações. O autor não revela identidade em nenhum lugar do evangelho. A mais antiga tradição, que temos em Papias menciona Marcos como autor, que havia estabelecido por escritos ou acontecimentos narrados por Pedro, mas isso não pode ser provado, Papias não teve conhecimento verdadeiro a respeito das relações do autor de Marcos com Pedro,  e o material de Marcos é produto de uma tradição histórica complicada e contraditória. Esse Marcos que  Papias fala pode ser o João Marcos dos Atos dos apóstolos, teria existido na igreja primitiva essa idéia de colocar a autoria dos evangelhos a discípulos de Jesus, mas a existência disso na época de Papias só diz respeito a Mateus, sendo assim muitos atribuem a João Marcos, mas essa tradição é de pouca credibilidade, a referência a I Pedro 5:13 não explica essa tradição mas só a ligação de Marcos com a pregação de Pedro, assim sendo, seu autor é desconhecido. Foi levantada a hipótese se atrás da menção do jovem que seguiu a Jesus depois de sua detenção estava uma alusão secreta ao autor, mas isso precisa de muito fundamento, não se pode demonstrar relações com Paulo, mesmo que nos dois haja o termo euvaggeli,ou e se fala abba o pater e se fala da morte vicária de Cristo, mas essas ligações devem ser atribuídas a uma tradição cristã primitiva comum acolhida tanto por Paulo quanto por Marcos, mas não se pode falar de uma influência de Paulo em Marcos.

     
       
3.2.1.2. Local


         Papias já defendia a composição de Marcos em Roma, em apoio dessa tradição com a qual está de acordo a maioria dos estudiosos, tem sido mencionado o uso de numerosos termos latinos de uso corrente, mas Marcos está obrigado a lidar com termos técnicos militares. Se encararmos por outro lado, nada leva a Roma, e o mais provável é que se trate de uma comunidade cristã oriental composta de gentios. Alguns autores dizem que foi em Antioquia devido a relação de Pedro com esta cidade e que se tratava de um centro de cultura romana. Outros dizem  que foi na Síria ou na Alta Galiléia.


3.2.1.3. Data


         Sobre a data muitos atribuem ao ano 66-70 por não haver referências sobre a destruição de Jerusalém, outros acham que foi depois do ano 70. Brandom vê em Marcos 13 o reflexo da situação dos cristãos de Roma no ano 71. A diferença entre a datação mais remota e a mais próxima depende da interpretação que no discurso apocalíptico se dá referência à destruição do templo de Jerusalém no ano 70, também é esta data a mais aceita porque não há nenhum argumento sério a favor de uma data antes ou depois de 70. Fiquemos então com o ano 70.


3.2.1.4. Destinatários


         No que se refere aos destinatários e suas características, numa análise podemos ver que não são cristãos de origem judia, e sim de origem pagã, através de uma comparação com Mateus que contém dados sobre os de origem judia. Fazendo uma comparação entre os dois evangelhos, vemos que Marcos fala da casa de oração para todos os povos, e da anunciação da boa nova a todos os povos,  isso falta em Mateus.  Lá  Jesus  disse que foi somente enviado às ovelhas de Israel. É uma comunidade tentada em colocar o plano da cruz em segundo lugar, ou uma comunidade que vive em perseguições, há membros desanimados e com pânico. Com grandes chances, Marcos foi compilado para gregos em uma comunidade cristã em algum lugar do oriente, talvez a Síria, na época da guerra judaico-romano, por volta do ano 70.


4.  ANÁLISE  MORFO-CRÍTICA


                  Na crítica literária e da redação fazemos a análise do texto para identificar a delimitação e estrutura do texto bem como os acentos teológicos e o contexto em que foi usado. No novo testamento há muitas maneiras na qual os textos se expressam para comunicar a sua mensagem, as quais são definidas pelo gênero literário.  Dentre os vários gêneros literários existentes temos o chamado paradigma, segundo Dibélius, Bultman chama de apotegma e Taylor de Pronoucement stories. ( BITTENCOURT. 1969, pp.31).
      

            Uma característica importante do Paradigma é que ele termina num dito, ou num pronunciamento de Jesus, através de uma  frase curta e incisiva. O Apotegma é uma narrativa cujo sentido culmina numa máxima importante, numa pergunta ou numa resposta expressa em forma de sentença. (WEISER. 1978, pp. 70).  O paradigma é breve, sem pormenores, tem uma introdução que tem a função de tornar o pronunciamento compreensível. Nesse sentido o acontecimento que está junto dessa frase importante constitui a moldura em que a frase importante está inserida. Sobre isso Bultman chama de paradigmas biográficos, e ele acha que as narrativas que vestem os pronunciamentos não são históricos, mas são cenas que aparecem diante dos ditos de Jesus para explicá-los. (BITTENCOURT. 1969, pp.34).


                Outra característica marcante do paradigma é a sua conclusão com um pronunciamento de Jesus, que pode ser com palavras ou atos, mas ambos mostram o efeito do dito de Jesus. Essa conclusão é curta, mas o que importa é o pronunciamento. Estes pronunciamentos de Jesus davam orientações aos cristãos,  e circulavam em unidades da tradição ou combinados em grupos sob tópico formal. (BITTENCOURT. 1969, pp.32). Na classificação dos textos com Paradigmas em Marcos vemos que Dibélius encontra dezoito textos com esse nome Paradigma, sendo que para ele oito são legítimos Paradigmas e outros dez não são muito legítimos pois não representam a verdadeira forma traçada pelos eruditos[1].


[1] - Cf. BITTENCOURT, 1969:34

          Segundo Dibélius e Bultman, o texto de Marcos 10:17-31 tem como gênero literário o Paradigma. Para Bultman os versículos 17-22 formam uma unidade básica tendo como complemento os versículos 23-27 e 28-31. Dibélius já classifica esse texto como sendo paradigma menos puro.  Os versículos 23-27 e 28-31 narram episódios que se retomaram porque estavam relacionados com o relato da pergunta do jovem rico. Assim, embora o texto esteja delimitado de 17-31 temos três seções: 17-22 que fala do encontro de Jesus com o jovem; 23-27 que tem o ensino de Jesus aos discípulos; 28-31 que fala das recompensas do discípulo. Esses dois textos seguintes relacionam-se com 17-22 pois falam sobre o seguir a Jesus e a vida eterna. Em 17-22 está o apotegma, mais especificamente no versículo 21 aonde há o convite em se largar tudo e seguir a Jesus. Esse convite supera a observância dos mandamentos, pois com o convite se responde a pergunta do jovem sobre o que fazer para herdar a vida eterna. Mas no caso do jovem isso não foi possível, e Jesus mostra o ponto máximo dessa impossibilidade com uma pequena parábola no versículo 25. Podemos dizer também que o versículo 31 é um paradigma, pois Jesus termina o seu dito com uma resposta geral ao assunto discutido, uma inversão total de valores que com certeza surpreenderá a muitos.

5.  ANÁLISE  SEMÂNTICA


Nessa parte faremos a análise de conteúdo baseado na estrutura ora já apresentada. Explicaremos os temas presentes nas partes da estrutura que está dividida em três partes:

A - 17-22: JESUS E O JOVEM
  
      
17a: No caminho para Jerusalém, após o relato com as crianças, Jesus põe-se pronto a continuar o seu caminho, mas é interrompido de uma maneira inesperada por um homem, que pelo menos aqui, não é descrito de maneira detalhada quem seja, mas se achega a Jesus e, de joelhos, faz uma pergunta que o preocupava muito. O ato de ficar de joelhos é a marca do estilo dos relatos judaicos de conversão. Nesse sentido, veremos mais a frente que o objetivo desse jovem realmente é descobrir o que fazer para ter a vida eterna, ou seja, conversão.


17b: Como continuação do ato anterior, o jovem faz a pergunta: “Bom Mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?” Vemos que o termo “Bom” usado por esse homem, não é muito comum no judaísmo Didaskale agaqe,.. Podemos ver nesse homem uma falsa humildade . Vemos que: 

... ele tenta impressionar com um cumprimento e, talvez, espera ser saudado com um título honorífico em troca. No mundo oriental, esse cumprimento exige um outro,  um segundo. Esta parece ser a tensão do texto, pois Jesus não retribui o cumprimento. ( BAILEY. 1985, pp. 348-349).

O homem acha que sairá agraciado, mas Jesus é inteligente e em muitas passagens mostra essa sua resposta áspera que tem como objetivo testar a seriedade das intenções de seu interlocutor. Isso nos torna capazes de entender as respostas de Jesus. A sua pergunta em relação a como herdar a vida eterna não é uma pergunta qualquer, há a intenção do homem de entrar em juízo consigo mesmo, pois tinha dúvida a respeito disso. É uma pergunta didática em busca de uma resposta didática.

Considerou-se  o templo como o lugar da vida e a vida eterna pressupõe a fé na ressurreição dos mortos. Mas esta fé que espalhou-se no judaísmo junto com a apocalíptica fez com que não mais garantisse a salvação do povo e que cada um é chamado a decisão e a vitória moral . (GNILKA. 1986, pp. 98).

         Nesse sentido querer fazer alguma coisa,  é fazer alguma coisa em relação a lei, mas deveria haver o conhecimento dela e também a sua interpretação. Segundo o texto, para ter a vida eterna, se requer condições que superam o que a lei exige.

         18-19: Jesus começa a sua resposta, primeiramente destacando o termo ”Bom Mestre”, da qual foi chamado, e diz que Bom é somente Deus. Isso acontece porque sobre o Deus Bom o judaísmo rabínico sempre falou e também o helenístico. O jovem chegou muito animado, falando que Jesus era Bom, mas somente Deus é bom, mas a posição divina de Jesus não é alterada, mesmo ele sendo um homem. Com a não aceitação do termo Bom Mestre, Jesus não pretende devolver a pergunta de como herdar a vida eterna, mas corrigir a afirmação do homem. Pois ele deve esperar a resposta de Deus, não há resposta paralela ou superior, pois Jesus só diz a vontade de Deus. Isso tem um valor cristológico.

Mas o texto não mostra a insignificância de Jesus em relação a Deus, Jesus disse: segue-me. Se fosse para mostrara sua insignificância ele mandaria o homem seguir a Deus, mas Jesus manda ao homem que o siga, é este o ponto mais alto do que é exigido dele, com isso Jesus é o agente de Deus, através de quem se expressa obediência a Deus. (BAILEY. 1985, pp 349).

         Com a citação dos  mandamentos  a cumprir, podemos perceber que os mandamentos citados por Jesus são da segunda tábua, há a lembrança da lei de Israel. Mas outro fato curioso é que os mandamentos citados são obrigações para com os semelhantes, isto é, para amar a Deus tem que se amar e ser fiel aos semelhantes, porque Deus é o nosso semelhante. Desses mandamentos extraídos do Êxodo vemos que um não existe Me apostereses (não defraudes).
Essa palavra usada por Jesus era muito forte, na versão grega do AT o verbo significa ao ato de reter o salário do trabalhador, e no grego significa a recusa de devolver os bens, o dinheiro deixado para que alguém cuide. (TAYLOR. 1979, pp. 511).                  

         Vemos que Me apostereses pode ser considerado um compêndio do nono e décimo mandamentos e é uma forma negativa de expressar o mandamento Me kleyes  “Não furtarás” que pode ser interpretada como sendo as obrigações sociais que se devem cumprir. Ao incluir um novo mandamento, Jesus estava realmente destacando a questão fundamental da vida do homem que lhe fez a pergunta. Assim não é permitido retirar o sustento da vida e o salário dos pobres, o que se encaixa com a realidade do homem que veremos a seguir.


         20: A continuação da conversa é interessante. Com a afirmação “Mestre, todas estas observei a partir de minha juventude”. O homem mostra-se um fiel cumpridor dos mandamentos, sente-se satisfeito em estar correto diante deles mas sua afirmação é presunçosa. O Talmude cita muitos que cumpriram a lei como Moisés. Essa resposta do homem então desperta a resposta crucial de Jesus ao homem, um desafio em sua vida. Temos a confissão do israelita de que se podem cumprir os mandamentos sendo conhecidos, no seu caso, desde a juventude. O que Jesus recordou citando a lei pressupõe que o homem praticou e pratica a vontade de Deus em sua forma conhecida e pedida até aquele momento.

         21: Jesus aqui olhou com amor para o homem. É a única vez, no evangelho de Marcos que se diz ter Jesus olhado “com amor” para uma pessoa. Jesus teve de ser honesto com aquele homem e anunciou clara e diretamente o caminho para o reino que é a honestidade com amor. Jesus não condena o homem, mesmo com sua resposta impetuosa, ao olhar sentiu carinho por ele.   O verbo usado, agapao, designa provavelmente impulso interno de admiração e afeto. Jesus sentiu-se atraído instintivamente para esta pessoa pura e séria (TAYLOR, 1979, pp 512). O olhar e a fisionomia de Jesus nos preparam para a continuação da conversa. Não acontece da parte de Jesus o reconhecimento da contribuição do homem em cumprir a lei, mas há agora um chamado. É uma nova exigência: vender tudo o que tem e dar o valor aos pobres para ter um tesouro nos céus  e seguir a Jesus, akolouqei moi. Jesus faz uma proposta mais forte ao que se considerava um bom seguidor do Mestre. Essas duas coisas a fazer são superiores a  todo cumprimento das leis, pois o desprendimento das posses terrenas que tem como prêmio o tesouro nos céus é a vontade de Deus para esse homem. A resposta de Jesus atinge o centro da vida daquele homem, que é seguidor do deus Mamom, um devoto das riquezas. Mas, como seguir a Jesus?

         Vemos que a palavra akolouqei moi significa segue-me no evangelho de Marcos. akolouqeo que significa seguir, ir para algum lugar com outra pessoa, ou seja, acompanhar, ir atrás de alguém. Essa palavra tem um significado especial quando se trata de indivíduos. Jesus, no imperativo, chama os discípulos e a resposta deles é descrita como sendo o “seguir”.  

akolouqeo  sempre  é a chamada ao discipulado decisivo e íntimo do Jesus terrestre. Sempre indica o início do discipulado. (BROWN. 1989, pp.659). Jesus não esperou por discípulos voluntários, sempre os chamou com autoridade divina. Ser um discípulo de Jesus era uma vocação escatológica para contribuir no trabalho do reino que estava por vir. Geralmente, aquele que aceita a nova vocação abandona a antiga, não de maneira opressora mas é em si mesmo. O homem dessa história não conseguiu se libertar da sua antiga vocação. Mesmo os que já seguiam a Jesus estavam sujeitos a isso, em fazer novas reservas no seu discipulado. É necessário fazer a nova decisão para ter completa e total obediência enquanto se é discípulo.  O caminho deixado por Jesus em Marcos é o caminho da cruz, é seguir o mesmo caminho que o mestre seguiu. O segmento a Jesus significa união aquele que foi pobre pessoalmente, que não espera consolos deste mundo e consequentemente vai decididamente a cruz. (GNILKA. 1986, pp.101).

         Obedecer os mandamentos não é para ter um destaque diante dos outros não é cumpri-los de uma maneira mecânica e sim, como expressão de amor aos semelhantes. O homem pertencia à elite econômica do judaísmo. Para os judeus daquela época, ser rico era sinal da bênção divina. Como Jesus poderia pedir aquele homem que deixasse  suas terras e riquezas, para segui-lo? Será que Jesus não sabia que os ricos eram abençoados por Deus?

As exigências propriamente ditas tocam no âmago dos mesmos valores primordiais sugeridos pela reordenação dos mandamentos, a saber, propriedade e família. As propriedades da família são de supremo valor na sociedade do Oriente Médio, porque são símbolo da coesão da família ou do clã. É-lhe pedido para colocar a lealdade à pessoa de Jesus em posição mais alta do que a lealdade à sua família e às propriedades de sua família, pois as duas coisas são uma... mas ele falhou e não correspondeu a exigência. (BAILEY. 1985, pp.350).

         Seguir a Jesus ao ponto de entregar a sua vida é a conseqüência lógica e aplicação da lei da morte e ressurreição e é um meio para ter a vida eterna.

         22: Contrariado e triste, o homem foi embora. A única pessoa que, no evangelho de Marcos, procurou Jesus a fim de “herdar a vida eterna”. Ele não entendeu que a sua riqueza era uma fraude perante Deus. Por isso, Jesus acrescenta o mandamento “Não defraudarás”. No AT, a herança era a parte que Deus daria a cada família Judaica na Terra Prometida, a qual não podia ser vendida e acumulada. Este homem queria a herança da vida eterna, pois já havia acumulado e defraudado as heranças de outros na terra. Garantida a riqueza terrena, quis também a riqueza eterna, mas ele não entendeu a mensagem de Jesus. O caminho do reino de Deus é o da renúncia e justiça e obediência a Deus. Ele só queria garantir a sua eternidade. O novo padrão estabelecido para o homem rico está além da sua capacidade de cumpri-lo e ele ficou triste, sem dúvida, pelo seu amor a riqueza, ou seja a propriedade da família na qual ele faz parte e é o chefe, Jesus exige lealdade maior do que a lealdade à riqueza venerada. Por esforços humanos é impossível obter a vida eterna. Isso só vem gratuitamente de Deus. Em geral podemos dizer que esse bloco trata sobre a situação do grupo que rejeita ao chamado de Jesus, representado pelo homem rico. A velha ordem não compreende o novo instituído por Jesus.


B. 23-27: JESUS E OS DISCÍPULOS



            23-25: Em face da saída do homem, Jesus começa a comentar, no versículo 23, sobre a impossibilidade de entrar no reino de Deus aqueles que têm riquezas. Jesus fala sobre o perigo das riquezas e o assombro por parte dos discípulos faz com que Jesus repita no versículo 24b a expressão: “mais fácil é um camelo passar através do buraco da agulha que um rico entrar no reino de Deus”. Jesus usa uma pequena parábola para ilustrar essa impossibilidade. A expressão camelo tem dado muito trabalho aos intérpretes do texto. Há duas tentativas de explicar o sentido. Uma procura através da linguística. Alguns intérpretes dizem que a palavra grega foi copiada de maneira equivocada: ao invés de camelo kamelos, afirmam que o certo era kamilos, que é traduzido como sendo uma corda grossa. Seria apenas a mudança de uma letra. Aí, possivelmente, ficaria correto, já que é impossível uma corda grossa passar pelo fundo de uma agulha. Parece que alguns copistas tentaram melhorar o sentido do texto e fazer possível a salvação para o rico se ele se esforçar, mas o apoio a essa idéia não é grande. Outra tentativa vem do Oriente Médio, onde as casas tinham portas que tinham que ser largas para que o camelo passasse. Essas portas tinham a mesma medida na altura e largura: cerca de três metros. Feitas de madeira maciça e eram abertas quando havia camelos com a carga. As pessoas se movimentavam através de uma porta pequena construída na porta maior.  Segundo comentaristas, este seria o fundo de uma agulha. Sendo assim, esta parábola  mostra um quadro concreto de algo que é realmente impossível. O camelo é o animal mesmo e a agulha é a agulha de costura mesmo. Jesus usa uma figura de estilo chamada hipérbole, a qual tem a função de ressaltar uma idéia. Aqui Jesus quer deixar claro que é mesmo impossível um rico entrar no reino de Deus.
         Vemos que o versículo 25 é realmente dito de Jesus. Isso é confirmado pela linguagem e a postura crítica frente à riqueza. Jesus fustigou em outros lugares o mamonismo. A idéia do seguimento encaixa-se perfeitamente com o conceito que Jesus tem de discipulado. Marcos faz da tradição um episódio que destaca o caminho para Jerusalém. Antes de ser o assunto principal da perícope, a questão da propriedade, o evangelista chama a atenção sobre a ameaça que pode acabar com a existência do discípulo.



         26-27: Em vista dessa parábola, os discípulos mais uma vez ficam espantados: ”Quem pode ser salvo?”. Se o judaísmo dava à riqueza um sinal da bênção divina e Jesus a desqualifica, qual seria o destino dos que não tinham nada? Aí vemos que a resposta de Jesus, no versículo 27, esclarece a questão: “Para homens é impossível, não para Deus, pois para Deus tudo é possível”(27). A pergunta dos discípulos, feita anteriormente, leva Jesus a afirmar isso. Só se salvam segundo a vontade de Deus e não por mérito humano ou vontade humana, isto é, a salvação é um milagre. Um homem rico, com seus esforços não pode entrar no reino. Ele só pode entrar no reino ajudado por Deus.



A’ - 28-31: JESUS E PEDRO


28: Pedro torna-se o representante dos discípulos. Ele se coloca junto com os discípulos apresentando uma resposta adversa a do homem rico: eles abandonaram tudo. As exigências feitas ao homem estão também no âmbito da separação familiar. Podemos dizer que Pedro e os outros são exemplos vivos do milagre de que Jesus está falando, mesmo com família e posses e morando no Oriente Médio, foram capazes de atender o chamado de Jesus. Realmente houve milagre com eles. O que era impossível para pensamento humano, faz-se possível com Deus, através da entrega dos discípulos ao serviço do reino de Deus. A resposta de Jesus ao que Pedro disse dá-nos a impressão de ser muito mais do que um ensinamento, Jesus responde com essa promessa. A renúncia na terra tem como fim uma recompensa grande Essa concepção de recompensa já era conhecida pelo judaísmo e pode ter sido elaborado na apocalíptica. O judaísmo helenístico poderia haver herdado os conceitos apocalípticos, onde os sofrimentos que passam devido a lei são comparados com a glória que será muitas vezes mais no mundo por vir [1].


         29-31: Dando continuidade ao assunto anterior, Jesus descreve os benefícios da entrega e da renúncia, comparando os velhos e os novos requisitos da obediência:


Antes não podia haver roubo nas propriedades, agora tem que se deixar a propriedade. Antes não podia cobiçar a mulher do próximo, agora tem que deixar a própria. Antes honrava-se o pai e a mãe, agora era deixá-los como prova de fidelidade. (BAILEY. 1985, Pp. 356).


         As  duas lealdades mais importantes do cidadão do Oriente Médio, quase mais importantes do que a própria vida, são a família e o lar. Jesus coloca ambas juntas e exige uma lealdade que sobressaia a elas. Ele quer o que é impossível para o homem, mas possível para Deus. A pregação de Jesus vai ao encontro dessas culturas causando choques e rompendo muitas lealdades culturais dos seus seguidores.


Vemos com isso que o galardão acontece graças a obra de Deus e não por méritos humanos. Colocar a obediência a Jesus acima da obediência a família e às posses. Quem obedece tem inúmeras recompensas nesta era e na futura. Realmente, segundo a graça de Deus, o homem recebe a vida eterna e não a adquire pelos seus méritos.Com a restituição de casas e famílias nesta vida, colocamo-nos diante de um espelho da comunidade que se entende a si mesma como uma fraternidade na qual está disposta a repartir. (GNILKA. 1986, pp. 107).


O esquema apocalíptico dos dois eones deixa claro a espera de algo para esse tempo, que é realizar a fraternidade como comunidade de Deus, receber realmente cem vezes mais neste tempo e na era ainda por vir. Finalmente, no versículo 31 vemos a mudança de papéis. Essa mudança pode-se referir aos que mandam e aos que não mandam, reis e escravos. A expressão ”muitos primeiros” exclui um jugo global. Há quem continua sendo o primeiro e último. Essa mudança tem como referência a comunidade. Não há motivo para considerar a promessa da recompensa como afirmação desprotegida, não se pode calcular a recompensa. O impedimento para uma comunidade melhor seria a arrogância e que membros dessa comunidade que têm funções de direção  se achem como primeiros e os outros como sendo últimos. Temos que lembrar aqui da liberdade de Deus que pode surpreender aqueles que se acham superiores. Temos uma advertência para aqueles que estavam forçando uma dominação. O reino novo é  de comunhão,  partilha, sem diferenças, hierarquias ou privilégios. Segundo Marcos, os últimos que serão primeiros talvez sejam os discípulos, mas a sentença poderia ser também uma advertência dirigida aos discípulos. (TAYLOR. 1979, pp. 520).


         Aqui, o chamado é correspondido e a nova ordem de Jesus se funda a partir da antiga. Os versículos 28-31 descrevem a situação daqueles que já seguem a Jesus.


[1] - Cf. GNILKA, 1986, p.106. Em 4 Esdras  7:89-91, vemos que as tribulações e perigos devido ao cumprimento da lei são compensados com a glória sete vezes maior no mundo celeste.


 
6.  SÍNTESE  TEOLÓGICA




No nosso trabalho de conteúdo encontramos algumas teses teológicas, as quais destacamos a seguir:


1 - O DINHEIRO, EM MARCOS, É UM IMPEDIMENTO PARA SER DISCÍPULO. Vemos que as propriedades e o que elas representam são um grande obstáculo para uma obediência do chamado de Jesus. As riquezas, para o povo judaico, era sinal da bênção de Deus. Jesus, com a sua nova pregação, diz exatamente o contrário. Ser discípulo é largar as posses terrenas para herdar a posse eterna.  Com isso é muito difícil abandonar as riquezas, pois está em jogo uma cultura, uma religião que já durava há muito tempo. Mais uma vez vemos a dificuldade de seguir o chamado de Jesus, esse tema realmente percorre este trecho e Jesus é preocupado sempre em afirmar que é necessário largar as riquezas para ser discípulo.


         2. A VIDA ETERNA ESTÁ ALÉM DOS MÉRITOS HUMANOS, SOMENTE DEUS PODE CONCEDÊ-LA. O homem que pergunta para Jesus acha-se totalmente apto para herdar a vida eterna, isto é, cumprindo os mandamentos ele crê que vai conseguir. Isso não é possível pois vemos que muitos cumpriam os mandamentos somente para manter a boa aparência, não havia o compromisso realmente. Quando Jesus responde que uma coisa falta a fazer, a alegria do homem transforma-se em decepção, pois a sua idéia de salvação era diferente da idéia de Jesus. Ele achou que tendo tudo na terra, como poder e honra, poderia conseguir a salvação quando bem quisesse. A salvação é um grande milagre vindo de Deus que excede toda possibilidade humana.


         3. JESUS É O ÚNICO AGENTE DE DEUS. ATRAVÉS DELE É POSSÍVEL DEMONSTRAR SEGUIMENTO A DEUS. Quando Jesus diz que somente Deus é bom, quer dizer que segundo o pensamento judaico somente Deus é bom, mas isso não tira a divindade de Jesus, ele disse para o homem “segue-me” e não siga a Deus. Temos uma crescente Cristologia em Marcos que afirma que para herdar a vida eterna é necessário seguir o Jesus terrestre. Consequentemente, a obediência a Deus é alcançada.

                   

           4. A FÉ É EXPRESSA NA LEALDADE EM JESUS. Quando Jesus chama os homens a uma vida de renúncia. Esta perícope faz parte do bloco dos ensinos para a comunidade. Por isso, andar no caminho de Jesus é andar no caminho que ele andou, o caminho da cruz, da humildade, da submissão.  Esta prática tem que ser superior ao amor e lealdade a família e as propriedades. Somente em Jesus a fé é expressa e a vida eterna também.


         5. A NOVA ORDEM DE JESUS SURGE, MAS NÃO ANULA A ORDEM ANTERIOR. Realmente, as palavras de Jesus estão criando uma ruptura radical no tecido das lealdades culturais dos ouvintes, mas o que ele fala não acaba com a antiga concepção da salvação. Ele partiu dela indo além com outros significados. Jesus re-significa os mandamentos, aliando a eles a graça operadora de Deus.


         6. O GALARDÃO DO SEGUIMENTO É PARA O AQUI E O ALÉM. Os que compreenderam o chamado de Jesus e, mais ainda, a salvação vinda de Deus, estão  conscientes de que receberão os galardões do reino tanto na vida do tempo atual quanto na que há de vir. Basta deixar tudo, o que o homem rico não fez.


         7. OS QUE TENTAM SE GALARDOAR POR SI SÓ NÃO CONSEGUEM SEGUIR AVANTE NESTE PROCESSO. O homem que quer a salvação por seus próprios esforços é limitado. Chega o momento que lhe é impossível fazer determinada atitude para herdar o galardão pois  está  além das suas capacidades. O homem não conseguiu dar tudo o que tinha. Entretanto, temos Deus que torna tudo possível.




7.  RELEITURA  TEOLÓGICA



             Podemos fazer uma interessante releitura de Mc 10:17-31. Este texto apresenta um teste para a nossa compreensão de salvação. De maneira desafiadora, Jesus expõe a relação entre salvação e riqueza, entre a entrada no reino de Deus e a entrada no reino de Mamom. Vemos que muitas igrejas têm tentado suavizar a exigência de Cristo em segui-lo. Muitos espiritualizam o ensino de Jesus e acham que deixar tudo é um ato somente do coração e não da ação, e não deixam que seu bolso seja afetado. Como resultado vemos igrejas pouco envolvidas com trabalhos missionários, já que isso é custoso e não tem garantia de retorno. Vemos igrejas que, por não haver esse desprendimento, não conseguem crescer, querem ficar no aconchego e assumir amor ao seu conforto e a sua situação e as consideram muito mais importantes do que o verdadeiro caminho do reino de Deus. Têm medo de se entregarem dessa forma e não compreendem voltando tristes. O amor às riquezas impediu o homem de seguir a Jesus, quantas coisas não impedem hoje o homem de verdadeiramente ter uma vida de discípulo? Muitos transformam o discipulado em uma coisa fácil de ser praticada por todos sem muitas exigências. Realmente podemos aprender que a vida de discipulado é uma vida realmente de entrega, sem medir esforços ou pensar nas circunstâncias da vida, não é que nem muitos que criam em ver meios fáceis para seguirem a Jesus.


         Com isso podemos perguntar o que camelos e agulhas tem a ver com o caminho do reino de Deus para nós hoje? Vemos que isso significa a impossibilidade do ser humano alcançar, por si mesmo, a salvação e entrar no reino de Deus. Muitos ficam apegados na religião, na igreja para serem salvos. O homem rico achava que cumprindo as leis teria a salvação. Mas a salvação não se consegue pela prática da lei. Muitos pensam hoje que fazendo tudo correto, conseguirão uma posição melhor perante Deus. Entretanto, não querem se envolver profundamente. A religiosidade não dá a vida eterna. Freqüentar a igreja não abre a porta do céu. A fé que Cristo nos pede é muito mais que doutrinas religiosas. E é essa fé que nos faz livres de toda riqueza humana para servir a Jesus, como caminho para a salvação. Nesse sentido temos o outro exemplo, o de Pedro e os discípulos. Eles compreenderam bem o sentido da salvação. Não serviam apenas para agradar a Deus e ao próximo e nem hesitavam no que se refere a disposição no trabalho. Apenas creram na certeza de que agora e no futuro receberiam muito mais, não porque pediram, mas teriam por causa da graça e da justiça de Deus. Muitos, graças a Deus, entenderam isso. Hoje temos exemplos de homens e mulheres que venceram as barreiras da cultura, da família e da economia para servirem ao nosso Deus segundo o exemplo de Jesus Cristo. Que possamos sempre nos perguntar se somos os últimos que serão os primeiros, ou supostos primeiros que serão últimos.


         De maneira conclusiva, consigo ver para os nossos dias três lições dessa perícope:


         1 - Seguir a Cristo é realmente desprender-se de todos os recursos mundanos para haver a cooperação no trabalho do reino de Deus, (o homem rico não trabalhava realmente).

         2 - A salvação não está na religião, ou ir em igreja para ter lugar no céu, e sim no envolvimento integral com o reino de Deus, (o chamado de Jesus ao homem que sai).

         3 - A entrega com amor sincero no serviço do reino de Deus faz com que o servo fiel não faça a sua tarefa com segundas intenções: “o que ganho com isso?”, e, sim, faz tudo para a glória de Deus em primeiro lugar, (Pedro e os discípulos).


CONCLUSÃO



             Realmente o texto de Marcos 10:17-31 é de muita importância no evangelho. Fazendo parte do bloco dos ensinamentos para a comunidade, vemos que ele foi necessário. Pois Marcos tinha que acabar com algumas dificuldades presentes na sua comunidade no que se refere ao seguimento a Jesus. Os temas presentes na nossa Síntese Teológica como: o dinheiro como impedimento para a salvação, salvação que está além dos méritos humanos e a fé expressa na lealdade em Jesus, entre outros, com certeza eram pensamentos da comunidade. E Marcos tinha que mudá-los.

         Creio que o texto que fala sobre o homem rico é um alerta para todos, o apotegma do versículo 21 quando correspondido, mostra o verdadeiro seguimento a Jesus. Também a atitude dos discípulos que abriram mão da família e dos bens para seguirem a Jesus - sendo que os bens e a família significa tudo ao homem judeu - é um exemplo de seguimento. Tendo como base a pequena parábola do versículo 25, vemos a impossibilidade do homem rico entrar no Reino de Deus, somente em Deus isso é possível.

         Que estas e outras explicações presentes neste trabalho exegético nos dêem  a real compreensão desse texto tão importante do evangelho de Marcos.


- Cf. LOHSE, 1974: 139-40, relata-nos que, o final secundário de Marcos surgiu já no século  II e pressupõe o conhecimento das histórias pascais dos três outros evangelhos. As diferentes complementações mostram que a conclusão do evangelho de Marcos foi sempre um problema. Mas a exposição do evangelho de Marcos termina em 16:8.
2]- Cf. BITTENCOURT, 1969:34
3]- Cf. GNILKA, 1986, p.106. Em 4 Esdras  7:89-91, vemos que as tribulações e perigos devido ao cumprimento da lei são compensados com a glória sete vezes maior no mundo celeste.   

SOLI DEO GLORIA

RUBEN DARIO DAZA B.


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Para lêr em português sobre outros temas:





5.- A teologia de Libertação e o Protestantismo Brasileiro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/teologia-da-libertacao-e-o.html


7.- A Vitória Definitiva do Crente Sobre a Morte: A Vida. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/vitoria-definitiva-do-crente-sobre.html


9.- Teologia e a Libertação na teologia latino-americana e suas contribuições na América Latina. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/teologia-e-libertacao-na-teologia.html


11.- A Volta de Cristo: Uma Reflexão Cristã abordando J. Moltmann. link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/o-que-penso-sobre-volta-de-cristo.html


13.- ISAÍAS : 26, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/i-texto-1.html




17.- A CURA COMO AÇÃO SALVÍFICA DE DEUS : Teologia Bíblica do AT. e NT. O tema da Cura consta de tres escritos inéditos sobre a minha monografia no Seminário de 4º ano. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/cura-como-acao-salvifica-de-deus.html

18.- O Estudo do ponto de vista teológico sobre a cura como ação salvífica de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/teologia-sistematica-cura-fisica-como.html
19.- A leitura da Bíblia diante dos desafios da realidade atual. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/julio-paulo-tavares-zabatiero-diretor.html

20.-Dissertação Exegética de 1 Coríntios Cap. 13. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com.br/2011/11/dissertacao-exegetica-de-i-corintios.html

21.- Exegese do Antigo Testamento Salmos 113. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.mx/2012/08/exegesedo-antigo-testamento-salmo-113.html

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